Já não lhe era difícil perceber o erro... peito doía, os pensamentos encontravam-se fixados em um só ponto, ansiedade, angústia, sensação absoluta de abandono, solidão.
Há muito tempo, jurara não entregar seu coração a mais ninguém. Não lhe pertenciam mais as ilusões de outrora, já havia deixado de acreditar em amores eternos e algo lhe dizia, que se existissem, não pertenciam a esse mundo.
Assim pensando, voltavam-lhe as imagens do sonho, das palavras, dos dias em que permitira que esses sentimentos esquecidos viessem à tona.
Ela sozinha,sentido-se romper por dentro. Buscando amparo, afeto, alívio para suas dores. Ele experiente, na esperança de encontrar alguém que lhe preenchesse o tempo, que lhe despertasse desejos, que o fizesse sentir amado.
Foi assim que se encontraram. Aos poucos a razão não mais lhe pertenciam e, ela deixou-se dominar pelas palavras, sempre gentis, sutilmente amorosas, ardentemente apaixonadas. Ás vezes, estamos tão carentes e vulneráveis que o pouco que nos oferecem se torna praticamente tudo o que precisamos. Algumas lágrimas escorriam por seus olhos, não existia raiva, rancor, mas uma desilusão absoluta, daquelas que acontecem quando a entrega é cega.
Quase todos os dias, estavam juntos, mesmo que por pouco tempo, na mais louca sintonia. Sentia-se bem e foi deixando que esse sentimento crescesse, mesmo com a consciência de que pertenciam a mundos e realidades diferentes.
Parece-me que todos nós somos assim... Sabemos, já vivemos, sentimos, sofremos, mas, o desejo de amar e ser amado é sempre mais forte e, quando nos damos conta, lá estamos nós, que antes nos dizíamos
vacinados, completamente e insanamente apaixonados. Por mais inteligentes e racionais que sejamos, quando alguém nos toca, oferecendo-nos a mínima atenção, é nossa carência que fala mais alto.
E foi isso que se deu... Período difícil, casamento em crise e um desejo enorme de amar. Há muito não se olhava no espelho. A pessoa que antes brilhava, ofuscou-se, absorveu-se e parecia não mais existir. Valores, doação extremada sem retorno, perda de si mesmo, solidão acompanhada, prisioneira de uma realidade que não preenchia. Era melhor quando ela não pensava, agora já não podia voltar atrás, percebia que seus sentimentos submergiram. Eram fortes, intensos, olhava-se no espelho e sorria para a mulher que via, finalmente seria amada.
Aquele homem a salvaria como um príncipe e a levaria para viver ao seu lado e seriam... “Opa! Acorda Cinderela! Logo você, que sempre fora racional e prática, acreditando em príncipes!” Internamente, algo já lhe dizia o que iria acontecer. Mas, o amor enlouquece, a paixão retira todas as possibilidades de uso da razão.
E agora, o que fazer para não sentir? Há meios de se apagar lembranças, de se esquecer palavras? Não, já não havia volta, ela teria que aprender a lidar com a ausência, a se conformar com a perda.
Ele não era o príncipe, nunca tentou sê-lo. Na verdade, ela esperou , fantasiou demais. Pensando bem, ela sabia que ele nunca lhe oferecerá muito. Era só o que queria, da forma que lhe convinha, no tempo em que considerava necessário. Nunca trocaria sua vida, a segurança de sua família para viver um grande amor.
Homens racionalizam mais, sentem, mas, não se deixam perder pelo amor. Certa vez, tentou se afastar. Ficou por um longo período sem aparecer ou lhe dar qualquer notícia , mas nesse momento seu sentimento falou mais alto. Retornou dizendo-se envolvido demais, mas, não mais intenso e nem lhe oferecendo mais do que das outras vezes.
Acostumada a entender e contentar-se com o que lhe ofereciam, ela o recebeu de braços abertos. “Ele me ama...disse ter ido longe demais, mas, voltou, portanto, me ama.” Lembrava-se de todos esses fatos, enquanto sentia seu peito comprimir. Nas lembranças, ficaram as juras de amor que ouvira e que também fizera. Houve momentos, em que apaixonada, faria o que fosse preciso para encontrá-lo, de certa forma idealizara um amor intenso, eterno, diferente de tudo o que já tinha vivido. Desejou intensamente que nada daquilo tivesse acontecido, mas, não tinha como voltar atrás, já não sabia como deixar de sentir, simplesmente esquecer, havia se envolvido demais e sofria a dor de ter sido abandonada.
(...)