Alguém poderia me informar por que já não nascemos com manuais de instrução afetiva? Ou, no mínimo, alguma indicação do caminho a seguir. Vivemos ladeados por um misto de emoções que nos direcionam a ansiedade.
Vendamos os nossos olhos às inúmeras possibilidades que a vida oferece e nos colocamos diante de um caminho que, sabemos não ser o melhor, mas, o vislumbremos como único.
Como se já tivéssemos a receita interna de tudo que, possivelmente, nos faria feliz, e persistíssemos errando na contramão da vida. Incidentes nos alertam, circunstâncias nos afastam, atitudes nos retraem, contudo, caminhamos errantes e cegos, incapazes de perceber qualquer sinal que não traduza o nosso desejo.
Dores internas, consciência incomodando, inúmeros avisos e, lá vamos nós, aprendendo sempre pelo caminho mais tortuoso e difícil. Poderia afirmar, pretensiosamente, ser esta a postura de uma excessiva maioria de seres humanos que caminham pela vida em busca de paz, amor, felicidade, realização pessoal e, que sentem e vislumbram todos esses anseios com tanta complexidade que são incapazes de percebê-los quando os encontram.
Vivemos momentos de felicidade, tão efêmeros e passageiros que precisam ser vivenciados intensamente para que a sensação de bem-estar nos ofereça uma paz momentânea que se traduza em fortalecimento.
Somos livres para escolher, opinar, redirecionar e, normalmente optamos pelo complexo, o inatingível. No uso do livre-arbítrio, atropelamos nossos sentimentos e valores e, quando nos damos conta, o caminho pretendido nem era tão bom assim. Agimos deliberadamente conosco, com os outros e procuramos culpados para as nossas loucuras, como se alguém ou algo fosse responsável por nossas atitudes.
Não é fácil “ser humano”, racional, pensante o tempo todo. Nossos instintos, algumas vezes, comandam todos os sentidos e nos percebemos a mercê de nossa vaidade e delírio. Não que tenhamos de ser racional todo o tempo, mas deveríamos ter um maior controle de nossas ações, usando com sabedoria a liberdade de escolha, o livre-arbítrio.
WANDERLÚCIA WELERSON SOTT MEYER
Insensibilidade
Cortaram minha amoreira e com ela seus troncos grossos e vigorosos que seguravam minhas orquídeas. Não me consultaram... Apenas, cortaram a golpes de machados tão pesados quanto à dor que senti o vê-la amputada, já sem vida. Aproveitava sua sombra todas às manhãs e seus frutos saborosos em tom de vinho, ofereciam-me vida. Sem nenhuma sensibilidade tiraram-lhe a vida e as vidas que à mesma abrigava. Nada me perguntaram, nada perguntariam, há pessoas que vivem pelo que pensam, decidem e não se dão ao trabalho de perguntar a ninguém o que sentem. Se eu soubesse que aconteceria teria argumentado e impedido que destruíssem a árvore generosa que enfeitava meu quintal. Minhas orquídeas, plantadas carinhosamente por essas mãos que escrevem, abrigavam-se a sombra da árvore parcialmente destruída. O pior é sentir que muitas vezes, assim como a amoreira, deixe-me podar sem perceber. Em um tronco agora sem nenhuma vida estão as orquídeas enraizadas e banidas da copa da árvore que as abrigava. Acabaram-se os ninhos, os pássaros que buscavam repouso, as brincadeiras dos meus filhos... Nada pode conter as lágrimas que enquanto escrevo vertem. Sinto-me assim tolhida, podada, aniquilada pela força e dec9isão de alguém, que um dia decidiu que não havia mais lugar para a vida da árvore... ”Ela fazia sombra no campo de futebol!” |
Wanderlúcia Welerson Sott Meyer |
Avesso que, por ser oculto e desconhecido, causou-me transtornos, dúvidas e demandas. Dores que nenhum analgésico foi capaz de minimizar. Entre o cansaço e a vontade, ainda preferi continuar. Contudo sigo com uma nítida sensação de que ainda não vislumbrei o caminho, tenho idéias e desejos e, sinto estar seguindo, mas, me percebo meio que desgovernada, sem objetivos claros, sem perspectivas lúcidas e sempre, ou quase sempre, pensando sozinha, falando sozinha e ouvindo o eco de minha própria voz. Enquanto escrevo, não consigo conter as lágrimas! É inevitável! Terei que recomeçar e ainda nem sei como. Terei que continuar sendo forte e, por vezes, nem imagino de onde surge todo impulso que me conduz a trajetória.
Falta-me companhia! Sei que tenho família, amigos... mas, esse ciclo interminável que me conduziu às perdas com as quais, tenho que conviver e combater, deixa-me a nítida impressão que estarei só, como estive enquanto sofria as seis cirurgias que fiz, perdia o contato com mundo externo, afastava-me da profissão que escolhi, perdia a audição do ouvido direito, convivia com as seqüelas de um erro médico, aposentaria depois de 25 anos dedicados a muito estudo e trabalho, proporcionalmente e, ainda conviveria com o medo, abandono e incompreensão, de alguém que estando ao meu lado, não percebia a minha necessidade de apoio, de colo, de afeto.
Minha cabeça dói e nem sei se é pelo vinho tomado ou pelo desconsolo de me encontrar em mais um ano e não saber ao certo o que fazer. Bom, isso passa! Como dizem por aí sou forte, tenho Luz própria e sei que, mesmo que demore, vou encontrar o meu caminho, ou os meus caminhos. Se antes, já me considerava um aprendiz da vida, hoje sei que realmente sou. Nada e ninguém pode ser maior que o meu desejo de recomeço!
Sonhei com a vida... Realidade que tentava esquecer e que, inconscientemente, fora trazida a tona como um filme, cada passo de uma trajetória de dor que ainda tem feridas enormes abertas e dolorosas. Feridas que só o tempo e o entendimento transformarão em cicatrizes. Se fora escolha para que minha alma fosse lapidada, mostro-me de forma mais harmônica exteriormente, contudo, a alma ainda grita, como se não pudesse legar o passado ao esquecimento. Sonhei e acordei em prantos! Aquele que oculto para que ninguém perceba. Como se sofrer já fosse, por si, considerar-se um contraventor.
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