O sono era conturbado, as dores e dúvidas muitas. Já havia levantado inúmeras vezes sem nenhuma vontade de ficar ali. Há muito me isolara na cama, deitando em posição fetal, buscando aquecer meu próprio corpo. À noite, engolia com seus assombros e os sonhos me furtavam o sono. Vinham todos os anseios, todos os desejos de uma só vez. É estranho quando se tenta fazer de dias e noites um passamento de vida. Não é possível observar em que dia da semana se situa e as horas tornam-se pesadas demais, longínquas e perturbadoras. Tudo que sentia é que perdera completamente meus objetivos, poucas certezas tinha e, a sensação era sempre acompanhada da pergunta: O que fazer agora?
Na escuridão da noite, podemos vislumbrar o que há de mais obscuro em nós mesmo. No silêncio, somos capazes de comungar sem digerir nossos pensamentos mais fortes e verdadeiros. Sentia-me refém de uma dor interna que não passava, perdida como menina em um bosque escuro e aparentemente perigoso, esquecera-se de deixar pistas para retornar. Levantei-me da cama e lembrei-me de um e-book que havia comprado, do livro que estava acabando de ler. Minha ansiedade direcionava-me a leitura voraz e a reclusão. Lendo sentia que o tempo todo ainda não estava perdido. Precisava me afogar nas letras, nos sonhos, nos contos verdadeiros ou não de alguém, para preencher os vazios que tanto me perturbavam.
Na verdade, a única coisa que queria naquele momento, era os braços de alguém que me aconchegassem sem nenhum interesse, que me ouvisse apenas, que transformasse aquela solidão em partilha. Muitas vezes, desejei apenas isso... Acalento, afeto, colo. E naquela tempestade, poucos foram os momentos que alguém me ofereceu amparo. Quando se é “demais”, ninguém percebe ou acredita que você não vá sobreviver à dor. Todos esperam que o seu interior se sobressaia sozinho e íntegro. Não há percepção da necessidade de afeto. Quanto mais forte somos, mais solitários ficamos quando as adversidades nos visitam.