Era uma casa antiga, muito a ser feito. Quintal sem flores, histórias de muitas dores. Espaço edificado e... Quase morto. Semivida. Muito espaço para pouco encanto. Erva, pombos, barro sobre a terra fértil. Amoreira esquecida, pitangueira que, só, geminará... Em frente um jardim.Era para ser um jardim... mas, o que realmente se via eram minguados pés de roseira e nenhum encanto. Toda morada é o retrato da alma que ali reside e, nesta ninguém morava. Tinha a impressão de que quem antes ali morara, parecia não gostar de vida, da vida... Por mais simples que seja uma morada, por mais singela, é o verde, são as flores que determinam o milagre da vida, à essência das pessoas, a alegria que verte do cantar dos pássaros, a alegria de um exultante beija-flor. Flores que podem ser simples, silvestres ou raras, mas, que exalam perfume, florescem aonde são plantadas.
Tenho a sensação de estar descrevendo uma das muitas almas humanas que se abandonam. Deixam de florir, de disseminar perfumes e alegria. Sentem-se só e, na solidão esquecem-se. Tornam-se sombrias, não permitem que o sorriso enfeite a face, espantam o que atrai a felicidade. Fecham-se, endurecidos por dores que são comuns a todos e, apartam de si tudo o que encanta. Clamam por amor e, ficam como roseiras abandonadas, rodeadas pelas ervas daninhas que cultivam. Desejam felicidade aonde jamais encontrarão, tornam-se servidores voluntários do ócio, da tristeza, do egoísmo, da vaidade, do orgulho. Transformam-se em enormes espaços vazios e sem vida. Pura opção e, por opção, entregam-se.
Bradam por auxílio e, ao contrário da casa esquecida e vazia, podem transformar, transformando-se... Mas, fecham portas e possibilidades com espinhos endurecidos, enrijecidos e teimosos. Anos mais tarde...poucos anos mais tarde... Alguém encontra a casa destituída pelo colorido e alegria que se deve oferecer a vida e, com cuidado, zelo e amor... atitudes simples e gratuitas de se reconstruir, distribuem mudas, sementes, retiram pedras e ervas, semeiam flores e aromas. O quintal, aparentemente morto, torna-se terra fértil e produtiva. O jardim, antes seco, transfigura-se em paisagem de flores, cores e formas variadas que encantam os olhos e a alma. A casa ganha vida e, aos poucos, pássaros voltam a cantar celebrando a beleza de se cultivar a alegria. Ao contrário da casa que precisa esperar quem a encontre, entregando-se à renovação, muitas pessoas optam pela estagnação, entrega.Com o tempo, deixam-se consumir pela depressão...Murcham e morrem, porque não permitem que ninguém as encontre. Não admitem que a renovação aconteça.
Wanderlúcia Welerson Sott
Enviado por Wanderlúcia Welerson Sott em 16/05/2011
Alterado em 16/05/2011